E o design com isso?
Compreender o design tem sido a nossa empreitada. Muitas vezes a teoria é engolida pela prática em nosso fazer diário, e pensar em aberturas para que as duas instâncias caminhem juntas é o meu principal objetivo com a disciplina Compreendendo o design: questões contemporâneas, teoria e história. Concepções teóricas podem se manifestar naturalmente na formulação de um projeto, ainda assim não podemos resumir nossa teoria ao que é instrumental. O debate sobre as cores, formas, linguagens e funções fazem parte do nosso alicerce, mas somos capazes de ir além quando questionamos as estruturas nas quais nos sustentamos e compreendemos nossa formulação conhecendo a nossa história. A compreensão é uma habilidade que depende da interpretação de um contexto e reforça algo que defendo sempre: o design é contextual.
Acredito que o design pode ser um meio significativo na busca por liberdade, autonomia e igualdade, e que a formação de designers não deve se dar puramente em função de mercados, do consumo e de práticas recorrentes pouco questionadas. Podemos extrapolar as fronteiras que muitas vezes nos são impostas e avaliar possibilidades de atuação de designers visando sugerir novos meios de ação frente aos desafios contemporâneos. Como designer, professora e pesquisadora, investigar a teoria e a história do design me fizeram entender, com mais consciência, os porquês de fazermos o que fazemos e como fazemos no cotidiano.
Essa disciplina tem como proposta ser um espaço de reflexão sobre a nossa profissão, os espaços que ocupamos na sociedade e nossas possíveis incidências neles, abordando também questões éticas e críticas sobre a formação do design dentro do capitalismo, a materialização de desejos e questões culturais intrínsecas a esse contexto. E ainda, no âmbito da revisão histórica, conhecer movimentos expressivos do design, compreendendo seus contextos sociopolíticos e desdobramentos, buscando interlocuções com nossas realidades e o mundo contemporâneo.
Acredito que a universidade é um local capaz de formar cidadãs e cidadãos que exercem sua profissão de maneira crítica, possibilitando espaços de atuação mais autônomos e conscientes. Esta publicação é o resultado de um incentivo à reflexão sobre a nossa atividade a fim de colaborar com a construção do conhecimento e a imprescindibilidade do compromisso social no design.
Durante o anacrônico 1º semestre de 2020, nos encontramos virtualmente às sextas para seguir com essa investigação que, mais do que uma reflexão do que propõe a disciplina, foi também um espaço de troca sobre a vida e o momento delicado de pandemia pelo qual estamos passando. Cada texto que compõe essa publicação é um pequeno retrato disso: do nosso tempo e de todas as reflexões que este tempo impõe à nossa profissão. Aproveitem a leitura!
